A FÉ PENTECOSTAL
          Mais de um século tem se passado desde que irrompeu no mundo o chamado Movimento Pentecostal.
          Suas 
crenças e práticas remontam ao Dia de Pentecoste, mas sua aparição 
globalizada e sua institucionalização são fatos relativamente recentes, 
ou seja, datam de apenas um século.
Em sua 
edição do dia 03 de dezembro de 1906 o jornal “The New York American” 
deu grande destaque a “um novo movimento religioso, formado por negros e
 brancos” e acrescentou:  “algo estranho está começando a acontecer”.
As 
primeiras igrejas de fé pentecostal no Brasil apareceram poucos anos 
depois. A Assembléia de Deus, por exemplo, nasceu em 1911. Durante os 
dias 16 a 18 de junho de 2011 ela comemorou exuberantemente seu 
centenário de fundação.
De acordo
 com uma estimativa do Hartford Institute for Religion Research, no ano 
de 2025 os pentecostais deverão ser 45 por cento de todos os cristãos no
 mundo. Rikk Watts, um pastor canadense, integrante da Assembléia de 
Deus e professor do Regent College, em Vancouver, Canadá declarou: “De 
cada 20 pessoas no mundo, uma é pentecostal”. 
Sob uma visão panorâmica e global, pode dizer-se que o Movimento Pentecostal está agora em sua terceira e crítica fase.
A 
primeira fase foi a das perseguições extremas, cujo resultado era uma 
busca a Deus incessante e piedosa. Todos os de dentro estavam 
espiritualmente unidos, porque todos os de fora estavam impiedosamente 
contra. Naquela surgiram as Convenções, voltadas para a Palavra, a 
Oração e o exercício do Amor Fraternal.
A segunda
 fase se caracterizou por uma espécie de “processo de acomodação”. Os 
missionários começaram a deixar os países nos quais abriram trabalho e 
dirigiram as primeiras igrejas e essas começaram a receber a simpatia 
das Denominações, inclusive das que ferrenhamente as combatiam 
anteriormente.
Nessa 
fase ocorreu um verdadeiro fenômeno: as outras igrejas começaram a se 
espelhar nas pentecostais e não somente assimilaram, como também 
reproduziram muitas de suas práticas.
A 
terceira fase tem outra marca: as mais antigas igrejas pentecostais 
começaram a perder sua identidade. Com o advento das néo-pentecostais 
passou a ser difícil identificar o que realmente significa a fé 
pentecostal, o que de fato significa uma igreja pentecostal.
Em umas 
igrejas falar em línguas é proibitivo. Noutras, não se fala de milagres.
 Outras não abrem mão da existência e prática dos dons espirituais.
Nas duas 
primeiras fases nunca houve “cultos de vitória”, “reuniões de milagres”,
 “campanhas da prosperidade”, “shows gospel”, etc., etc. Hoje tudo isto é
 parte da liturgia das igrejas ou de sua liturgia.
Alguns 
Círculos de oração continuam exuberantes. Mas, no geral, simplesmente 
estão desaparecendo e sendo substituídos por algumas novidades, muitas 
das quais importadas de arraiais que jamais provaram a verdadeira fé 
pentecostal.
Em 
muitíssimas igrejas, os círculos de oraçãonáopassam hoje de círculos de 
pregação. As memoráveis noites de vigília têm cedido gradualmente seu 
lugar aos “vigíllhões”, onde existe de tudo, menos oração. O ponto alto é
 a presença de uma celebridade do mundo dos pregadores e, com certeza, 
uma fertilíssima colheita de ofertas, destinada habitualmente aos mais 
variados propósitos.
Ademais, 
entramos na fase da abundância enloquecedoura de ministérios pessoais, 
uma prática de endeusamento e de culto à personalidade, que deixaria 
envergonhados e confundidos os apóstolos do primeiro século, caso 
pudessem aqui aparecer para isto testemunhar. Isto sem precisar falar 
das disputas que ocorrem por trás dos bastidores.
Reuniões 
de oração e de ensino foram a marca registrada da Igreja nos seus 
primeiros 50 anos. Eram prioridade absoluta. Hoje, são escassas como 
tal. Evangelismo pessoal foi a tônica da primeira fase. Evangelismo em 
massa, da segunda. Na terceira emerge com vigor o tele-evangelismo.
Escrevo esta crônica entristecido com a atitude de alguns pregadores notáveis que
 publicamente zombam de certas práticas pentecostais, como se fossem 
heréticas. Esquecidos estão das verdadeiras origens deste grande 
Movimento do Espírito. Ser simples na Bíblia é assunto de honra. Para 
alguns hoje é matéria de galhofa.
Nossas 
fragilidades jamais tirarão o brilho da legítima grandeza do operar de 
Deus. Quaisquer que sejam o “marketing”, a metodologia e o sistema usado
 por alguns, vale lembrar que línguas estranhas, interpretação, 
revelações, dons espirituais, oração por enfermos, expulsar demônios, 
etc., não foram retirados da Bíblia nem abolidos da Igreja.
Devemos todos ser
 moderados, prudentes, respeitosos e éticos no tratar com as coisas 
divinas. A fama freqüentemente é uma bebida forte, altamente fermentada,
 que embriaga impiedosamente. O luxo das “catedrais” não deve apagar a 
memória dos “casebres” insalubres, dentro dos quais receberam o seu 
Pentecoste os pioneiros, os fundadores e os pais daqueles que hoje levam
 as massas ao delírio.
Pregadores há que insultam os pastores, porque nunca o foram.
O dever de ganhar almas inclui basicamente o cuidado para não perdê-las.
Os jovens
 que hoje vendem saúde não podem espezinhar os velhos que perderam a 
sua, no labutar diuturno em busca de resultados para o seu ministério, 
executado antes da era da internet e dos “acessórios” que a coroam. Tudo
 que se tem hoje é colheita do que ontem se semeou.
As 3 gerações do Movimento Pentecostal no mundo e, particularmente no Brasil, lembram os três grandes patriarcas do passado.
A 
primeira geração cultivou piedosamente a fé que dominava o espírito de 
Abraão. A segunda foi a herdeira da bênção, como Isaque. A terceira tem 
grandes e graves semelhanças com Jacó, o homem das barganhas, dos 
conchavos e das “lambanças”.
O 
político e ecologista carioca Alfredo Sirkis referiu-se recentemente à 
“sua terrível experiência negativa com vários políticos pentecostais que
 conheceu, alinhado às piores práticas do parlamento e da administração 
pública” Que o diga o escândalo da CPI dos Sanguessugas.
Para que a
 presente geraçäo esteja apta a subir no Dia do Arrebatamento, é de 
esperar uma revolução espiritual, um novo “vau de Jaboque”, para que de 
lá saia, não um Jacó acostumado à politicagem, à matreirice e às 
barganhas, mas um Israel, um príncipe do Senhor, um cidadão comprometido
 com Betel, um adorador que profetiza para o seu povo as sublimes 
palavras do Grande Senhor e Deus.
Se somos 
pentecostais, que o sejamos. Não apenas por tradição, nem para ganhar a 
simpatia de milhares, mas porque dentro de nosso coração ferve uma 
experiência gloriosa que tem atravessado os séculos e que merece muitos 
nomes, um dos quais é a fé pentecostal.
http://prgeziel.blogspot.com/ 
 
 



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